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Saúde e bem estar

Papel emocional da comida x comedores emocionais

Quando eu era criança minha mãe fazia um pavê com biscoito maizena. Lembro que eu comia cheia de alegria e fazia questão de demonstrar isso, arrancando vários sorrisos da minha mãe. Ela sabia que eu amava essa sobremesa, mas não fazia toda hora pois eu sempre tive excesso de peso, então precisava ter cuidado.

Por muito tempo achei que ela não fazia sempre pois não queria ter trabalho com aquilo, hoje vejo que ela estava cuidando de mim e que, se eu comesse aquele doce sempre, provavelmente ele nem teria tanta graça assim.

Hoje (15/01) estou no Mato Grosso do Sul com minha família. Viemos visitar meus tio Elias – irmão do meio da minha mãe – e fomos recebidos com muito carinho por ele, sua esposa e nossos 2 primos pequenos.

Aqui a mesa é farta e dentre uma das diversas sobremesas que nos foram oferecidas estava o pavê com biscoito de maizena. Logo que ele chegou eu e mamãe nos entreolhamos, pois lembramos dos almoços maravilhosos com longas conversas em volta da travessa de pavê. Comíamos de raspar o vidro e o dia do pavê era sempre um bom dia.

Servi o pavê para meus pais, meu irmão e eu. Quando provei da primeira colherada logo senti meu coração quentinho e relembrei das tardes naquele apartamento pequeno que por tantos anos acomodou nós 4 na Tijuca. Lembrei dos dias felizes, da mesa cheia, das boas conversas. Lembrei da mamãe na pia da cozinha montando pacientemente o pavê e lembrei de mim, sempre ansiosa observando todo o processo. Lembrei do meu coração feliz, dos meus olhos atentos e da alegria que invadia meu serzinho ao saber que no almoço teríamos aquela sobremesa.

Hoje eu paro e vejo que, mais que pelo doce em si, meu coração se alegrava ao ver mamãe preparando algo que eu gostava. Aquilo para mim era um carinho muito grande, e levo isso até hoje: Crio grande afeição por quem cozinha pra mim, fazendo algo que eu gosto só pra me agradar. Meu coração se enche de amor e o resultado disso são vários abracinhos.

semente de chia

Fonte: Pâmela Brandão

A comida exerce vários papéis em nossas vidas: Papel social, nutricional e emocional. O social é aquela vibe de reunir a galera no final de semana em volta de petiscos e uma cervejinha. O nutricional é a essência da alimentação, nutrir o corpo e mantê-lo em funcionamento. Já o emocional vai mais embaixo, pois acredito na diferenciação do papel emocional da comida e o comer emocionalmente.

O Comer emocional também é chamado de fome emocional ou fome psicológica.

Comer emocionalmente é usar o alimento como fonte de conforto, alívio ou para compensar algo. Acontece quando, após um dia difícil, você come para desestressar. É a fome emocional que, quando atendida sempre, transforma as pessoas em comedoras emocionais.

Mas comer uma sobremesa que nos traz boas lembranças – e comê-la de forma equilibrada – num contexto como o que vivi aqui em MS, seria caso de comer emocionalmente?

Acredito que não.

O papel emocional da comida é similar ao social, pois acontece quando, ao comermos uma rabanada em julho, nos lembramos das festas do Natal. É quando, ao comer um salsichão em janeiro, nos lembramos das festas juninas. É também quando você vai num restaurante self service, descobre que lá tem aquela farofa deliciosa que sua avó fazia e come quase chorando de saudade.

Isso não faz mal a ninguém.

Somos humanos e nos alimentamos não apenas de comida, mas também de lembranças e sentimentos. Nesses casos a comida serve apenas como o interruptor que nos ascende uma luz para coisas que já vivemos.

O papel emocional da comida passa a ser um comer emocionalmente quando, com saudade da vó, fazemos aquelas comidas que ela sempre fazia e comemos tudo, mesmo sem fome, mesmo sabendo que aquilo nos causará mal estar depois. Nesse caso, transformamos algo que era bom – a comida de vó – em algum ruim, – mal estar por comer demais -, e isso não é legal.

Eu poderia ter comido bastante pavê, mas comi um pedaço. Aquele pedaço foi suficiente para preencher meu coração com belas lembranças. Se eu tivesse comido muito pavê teria ficado enjoada, e assim substituiria lindas lembranças por um enjoo bem chato.

Parece clichê, mas tudo na vida é equilíbrio.

fome emocional

Fonte: SulAmérica Saúde Ativa

Busque manter as experiências boas BOAS, não as estregue por descontrole, desespero ou excessos. Isso vale em muitos contextos, mas em questão de comida saiba que o mundo não vai acabar amanhã e que um mal estar ocupará muito você, tanto física quanto emocionalmente. Logo, poupe-se.

Trate-se bem. Chore, ria, lembre, esqueça e lembre novamente. Coma, beba, corra, viva. Viva como se fosse morrer, pois você vai. Todos vamos. Mas deixe pra morrer mais pra frente ok? Vá com calma para poder curtir muita coisa até lá!

Beijos! ❤

3 comentários

 

 

  • Emerson Garcia Affonso Vieira

    Adorei a reflexão. Realmente existem muitas comidas que cumprem esse papel emocional, mas devemos tomar cuidado pra não comer demasiadamente. Parabéns pelo texto!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  • Camila Faria

    Que post lindo Bárbara. Cozinhar para quem a gente ama ~ pra mim não existe carinho maior. Adorei essa reflexão sobre fome emocional e fome física, gostei de entender melhor a diferença entre elas. E você está certíssima, equilíbrio é tudo nessa vida. Um beijo! :*

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  • Flávia

    Nossa, tô sem palavras, você conseguiu trazer um assunto super sério com muita sutileza! Obrigada

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