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Saúde e bem estar

Como superei a Compulsão Alimentar

Dentre os transtornos alimentares que tive, passei bom tempo da vida enfrentando longas crises de compulsão alimentar. Hoje vou contar um pouco da minha história com a compulsão, o ápice do transtorno, como conseguir superar e o que faço para manter o controle da situação.

O que é compulsão alimentar?

A compulsão alimentar é um transtorno em que a pessoa sente a necessidade de comer, mesmo quando não está com fome, não conseguindo parar mesmo estando satisfeita. Há uma sensação de perda de controle. Pessoas que sofrem desse tipo de compulsão, também chamado de transtorno alimentar compulsivo (TCAP), ingerem grandes quantidade de comida em curtos períodos de tempo, e após a ingestão exagerada de alimentos sentem culpa, raiva e e vergonha.

A compulsão alimentar começou quando eu ainda era criança. Lembro que eu me sentia ociosa e sozinha, e nisso a comida me servia para preencher o tédio e amenizar a solidão. Com o tempo, as brigas em família e problemas na escola foram se tornando motivos para que eu compensasse minhas frustrações em comida.

Bárbara Cavalcante Infância Criança

Lembro de mim com 9 anos subindo em bancos para alcançar os armários da cozinha e comer o que eu achasse por ali. Sendo conhecida por “comer escondido” e “acabar com tudo em casa”, meus pais escondiam a comida de mim, e lá ia eu fuxicar bolsas e armários da casa atrás de doces, salgadinhos ou qualquer coisa “gostosa” que eu pudesse colocar na boca.

Lembro de um remedinho manipulado que era docinho. Eu sempre acabava com o pote. Se era agradável ao meu paladar de criança, servia.

Nisso os anos foram passando e eu fui engordando. Sempre me senti diferente das meninas da escola de forma negativa, porém por volta dos meus 13/14 anos descobri – não lembro se pela TV ou numa aula na escola, mas era um conteúdo para ALERTAR sobre os transtornos alimentares – a anorexia e a bulimia.

Falei mais sobre esses transtornos nos dois vídeos que vou deixar abaixo, então se puder dê um pause na leitura desse post e confira os vídeos, depois volte, pois seguirei na linha dos acontecimentos.

Com a anorexia e bulimia eu ficava muitas horas sem comer e quando comia acabava ingerindo muita comida de uma vez só, além de litros de tristeza, frustração, mágoa e muitas, muitas lágrimas no meio disso tudo. Ao fim eu sentia nojo de mim e desesperada partia para o vômito ou dezenas de laxantes tentando compensar o que tinha feito comigo.

Eu sempre prometia que aquela teria sido a última vez, mas não foi.
Foram centenas nessa época, senão milhares a vida toda.

Eu ficava 3 dias sem comer e depois comia metade de um bolo, meio quilo de pão de queijo e dezenas de doces. Sentia enjoo, mal estar, mais o que mais doía era a tristeza, pois eu sentia que estava me machucando, mas não conseguia parar. Meu corpo implorava por ajuda, mas eu não conseguia mudar.

Bárbara Cavalcante Anorexia Bulimia

A compulsão alimentar me ajudou a sair do polo da anorexia para o extremo oposto, a obesidade.

Enquanto com 14 anos eu cheguei no meu menor peso, 50 kg (o último peso que vi na balança, pois depois parei de me pesar pois me sentia gorda demais) aos 21 anos eu bati os 120 kg – mais de 2x meu menor peso – e isso porque depois de ver 120 kg na balança eu, mais uma vez, parei de me pesar.

Engordei 70 kg após sair da anorexia. Cheguei num ponto no qual eu mal conseguia andar, que dirá tomar um banho ou dormir. Contei algumas das dificuldades que passei no vídeo que você pode conferir abaixo:

Quando você começa a ter dificuldades para andar, você acha que é isso aí, fazer o quê? Conviver, né? Você aprende a sobreviver, busca opções de trabalho em casa, pede delivery, evita sair a todo custo e coisas assim. Coloquei uma cadeira no banheiro, aceitei as roupas XXG masculinas e pensei que não teria mais volta.

Aí a compulsão atacou forte.

Nas crises de compulsão, eu comia alimentos ultra processados, doces, salgados e pão na maior parte do tempo. Na outra parte pedia delivery de comida japonesa e ficava com o coração a mil e suando até o interfone tocar.

Senti que já não tinha nada a perder. Me sentia nojenta, triste, um fracasso. Não queria que ninguém da família me visse para evitar os comentários. Não queria sair na rua com medo de que meus colegas de escola me vissem e confirmassem tudo que ouvi com todo bullyng que sofri na infância. Não queria ir pra faculdade pois me sentia menos que todo mundo. Tinha vergonha, MUITA vergonha não só da minha aparência, mas de quem eu tinha me tornado.

Um obesa compulsiva e triste que mal conseguia andar e tinha fungos entre as dobrinhas.
Era assim que eu me via.

Bárbara Cavalcante obesa obesidade gorda

Segui por meses sendo compulsiva ao extremo. Porém agora eu era maior de idade, trabalhava em casa e tinha meu dinheiro. Para sustentar o que eu argumentava – que eu não comia nada demais, que a culpa era do meu hipotireoidismo e ovários policísticos – eu pedia quilos de comida no delivery e comia escondida no meu quarto quando ninguém estava em casa. Chorava, esfregava comida na cara, misturava alimentos que não foram feitos para serem misturados.

Eu só queria preencher aquele vazio que tanto doía em mim.

Depois de um tempo decidi estudar para concurso público. Disse para mim mesma que comeria mal porque concurseiro não tem tempo pra se preocupar com alimentação. Era mais uma desculpa, mas me joguei nela de cabeça.

Bárbara Cavalcante gorda emagrecimento

Até o dia em que passei mal.

Estava em casa e comecei a sentir uma pontada na lateral da barriga. Doía DEMAIS. Achei que era gases, mas tomei remédio e não passava. Após a insistência da minha mãe e eu começar a ter dificuldade de me movimentar dentro de casa, fui para a emergência.

Órgãos inchados, obesidade grau 3, pré diabetes, hormônios desregulados, exame de sangue todo alterado e muita dor e vergonha me acompanharam ao pronto socorro naquele dia. O médico foi categórico e disse que se eu não emagrecesse e cuidasse da minha saúde, morreria de morte súbita a qualquer momento.  Meu corpo gritava mais uma vez por socorro, mas dessa vez eu ouvi e decidi ajudar.

Fui pra casa com uma “dieta de doente” que segui e emagreci rapidamente alguns quilos na primeira semana. Foi um choque no meu organismo e me senti bem melhor com aquela alimentação. Decidi continuar e busquei ajuda.

Voltei nos médicos que já cuidavam de mim e entrei para um programa do plano de saúde chamado Viva Melhor, onde consegui acompanhamento por uma equipe multidisciplinar. Fiz novos exames, busquei equilibrar meus hormônios, comecei a tratar a pré diabetes e busquei também uma nutricionista.

Não me dei bem com a profissional, mas ela me indicou uma psicóloga do plano que segue comigo até hoje.

Nessa jornada de emagrecimento caí em compulsão muitas e muitas vezes, mas sempre retomava minha rotina saudável e buscava meios de ter menos compulsão.

Com a psicóloga entendi que meu problema nunca foi a comida, mas sim como eu lidava com ela. Consegui enxergar que eu descontava sentimentos, frustrações e emoções mal resolvidas na comida. Vi que eu estava mal por algo, aí comia, tinha segundos de prazer e logo mais me sentia ainda pior. Vi que não fazia sentido e busquei me lembrar disso nos momentos em que tinha vontade de devorar uma padaria.

Demorou, mais aos poucos as crises de compulsão foram melhorando e hoje não lembro qual foi a última vez que comi demais de uma vez só, sentindo descontrole e tristeza.

Hoje quando me pedem dicas sobre como superar a compulsão, sempre indico ir a um médico para diagnosticar o quadro, fazer exames para ver como anda a saúde e procurar um psicólogo. Comer demais, passar mal e se sentir mal por isso não é normal e nem coisa de gente nojenta, é apenas um transtorno que precisa de tratamento como qualquer outro.

Busque tratamento e acredite em você. Quando cair, levante. Insista.

Pode demorar, comigo demorou, mas hoje, 3 anos depois de ir parar na emergência, estou bem, tenho saúde, não tenho mais crises compulsivas e até hoje emagreci 42 kg. E sigo.

Antes e depois Bárbara Cavalcante emagrecimento

Força. Busque ajuda. E força.

Esse post ajudando uma pessoa a se sentir capaz e a cogitar procurar ajuda, já ficarei mega feliz.

No meu canal no youtube falo mais sobre experiências que já passei e mostro como estou cuidando de mim hoje. Se tiver um tempinho assista alguns vídeos aqui.

Beijos! ❤

3 comentários

 

 

  • Emerson

    Que história emocionante. Sempre é possível mudar hábitos. Você é a prova disso.

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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  • Mayara

    Linda história parabéns e sucesso!

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  • Cássia

    Que depoimento incrível, Bá. Eu acompanho seu blog e seu canal desde aquele vídeo que você fala como perdeu 20 quilos. Faz muito tempo mesmo! Mas, mesmo com todo incentivo que seus vídeos me dão, eu não duro nem 2 semanas em nenhuma dieta… E em todo esse tempo, ao invés de emagrecer, engordei ainda mais. A cada compulsão eu desistia e voltava ainda pior. E sempre tive muita pressa em ver algum resultado. Afinal eu estava passando fome e muito triste. Porque a ausência de comida me deprime. Foi quando comecei a prestar mais atenção no que você diz… Eu não preciso ter tanta pressa, eu não preciso passar fome e principalmente, eu não preciso sofrer. O processo de dieta tem que ser prazeroso. Eu tenho que pensar que estou fazendo escolhas diferentes para meu próprio bem! E algo que você disse uma vez (não me lembro exatamente quando) mudou muito minha forma de enxergar as coisas: “a reeducação alimentar é pra vida toda. Não encare isso com uma dieta que vai durar um tempo x até você atingir seu peso esperado e depois você volta a fazer tudo comi antes.” Hoje estou com 105 quilos e 31 anos. E pela primeira vez eu quero ir com calma e talvez isso dê certo. Muito obrigada por dividir suas experiências conosco. Você é uma GRANDE inspiração de força, de perseverança, de amor próprio e auto estima. Um abraço, lindona! 😉

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